18  01
2015
Variedades

Necessaire Cultural | Exposição Ron Mueck

A nova coluna do Comprando Meu Apê!

Numa escala que define os piores dias da semana, para mim, domingo sempre ficou na primeira posição. E a segunda, na segunda. Porque domingo é uma pré-segunda. Com TV a cabo ou não, é dia de Faustão, Gugu e desânimo absoluto.
Mas – NADA – como a expectativa para nos ajudar a gostar do domingo e até da segunda. Basta sabermos que o tempo precisa mesmo passar para chegar aquele dia importante, que vai rolar aquela coisa sensacional, que tá nos deixando com uma ansiedade absurda. Eis, a nossa intenção: revitalizar este dia borocoxô.

Quando a Bruna me procurou, sugeriu que criássemos um espaço com novidades, indicações, lançamentos, estreias, curiosidades e whatevers para você. De forma que, mesmo em eventos fora da sua cidade, você participe de cada detalhe.

Talvez você me pergunte: “Mas Ju, por que Necessaire Cultural?”. E sem peruagem eu te respondo: porque não dou um passo sem a minha necessaire.

Então comecemos nossa jornada, pela exposição que passou por Paris e Buenos Aires, chegou ao MAM-Rio em março do ano passado e veio para a Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde segue em cartaz até 22/02.

Exposição Ron Mueck

Ron Mueck é um artista plástico que faz milagres em resina, fibra de vidro, acrílico e silicone. A maioria de suas esculturas hiper-realistas retratam o corpo humano com uma precisão absurda. E olha, te digo que se os tamanhos não denunciassem, você afirmaria que tudo que passa diante dos seus olhos é real.

Visitei a exposição pouco antes do Natal e dei muita sorte, porque normalmente seu percurso começa numa fila de virar quarteirões.

Antes de falar das obras, quero dizer que senti muita falta de informação. Os trabalhos não estavam sequer nomeados e nem apresentavam descrição. Por conta disso, se você não souber o mínimo sobre o assunto, acaba tendo uma experiência menos rica. Claro que nenhum trabalho e Mueck depende de explicações para impressionar, mas como toda expressão artística, as histórias por trás de cada obra ressaltam ainda mais os seus detalhes e influenciam a sua interpretação. Mas enfim…

Quando você entra na primeira sala, de cara encontra a escultura abaixo.

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Mask II, 2002

Natural que você paralise sua atenção em cada detalhe: os dentes, as marcas de expressão, a perfeição com que a pele repousa sobre a bancada, os pêlos na orelha, os poros e o fato de ser uma máscara. Mas se você soubesse que este é um autorretrato de Mueck, ficaria ainda mais boquiaberto enquanto ele dorme.

Vencida a vontade de ficar ali parada para sempre observando a obra, passei para o segundo ambiente, onde um homem em escala diminuída na posição vertical, descansava sobre uma boia.

A parede azul de fundo me sugeriu, de imediato, a água. Esta é a única escultura da exposição em que não vemos os olhos do homem, mas me desdobrei inteira para poder assegurar que eles estão abertos atrás dos óculos escuros. Logo, ele vê.

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Ron Mueck em carne e osso à esquerda e Drift, 2009 à direita.

Como eu já havia lido sobre a obra, consegui enxergar uma outra intenção. Note que os braços – que poderiam estar fechados – projetam o homem na figura de Jesus Cristo. Em segundo plano aparece o céu azul. Os óculos escuros que antes apenas protegiam os olhos contra o sol, agora nos remete à morte, ou seja, agora ele não vê.

Assim, enxergo claramente o homem sobreposto a Jesus Cristo. Onde, para estar ali desfrutando de uma vida agradável, dependeu do sacrifício ocorrido na cruz. Outras opiniões compartilham que a boia (maior que o corpo e capaz de impedir que o homem afunde) representa a dependência do homem com relação a Cristo.

O momento “oun” da exposição é de um casal de namorados que visto de frente parece fofo e íntimo, até você dar a volta ao redor deles para notar os detalhes e perceber que a coisa, na verdade, está bem tensa por ali.

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Young Couple, 2013

Dividindo a sala com o casal, está uma mãe carregando seu bebê. Ou melhor: uma mulher, carregando duas sacolas, uma em cada mão, com um bebê preso ao peito. Porque – embora a nossa imaginação preguiçosa diga que ali são mãe e filho – nada indica que ela é a mãe daquela criança, nem mesmo o nome da obra, que inclusive me fez perceber quão nula é a criança, olhando fixo para a mulher enquanto ela parece estar bem longe dali com seus pensamentos.

London Frieze Art Fair

Woman with Shopping, 2013

Alguns passos à frente e nunca (N-E-V-E-R) na minha vida, imaginei render tanto tempo de atenção a uma galinha, até me deparar com a de Ron Mueck.

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Still Life, 2009

Desconfio que não é à toa que ela – morta – está posicionada exatamente no meio do percurso (quinta entre as nove obras expostas), dentre tantos seres humanos – vivos – em diferentes tamanhos e situações do cotidiano. Acredito que a intenção esteja linkada ao poder do homem em viver e também matar. Mas essa é apenas a minha interpretação.

Outra escultura badalada é a de um menino negro esfaqueado, cuja reação (ou a falta dela) é bastante curiosa, pois o rosto não expressa nenhum tipo de dor. Ele apenas se mostra espantado com o ocorrido. Seria uma observação de que a violência passou a um estágio em que já não dói mais, apenas assusta?

'Youth' 2009 (Mixed Media) by Ron Mueck

Youth, 2009

No mesmo ambiente, uma mulher carrega diversos galhos. É a primeira pessoa que aparece completamente nua e os seus olhos parecem observar qualquer ângulo. Ali, ficou gritante para mim apenas a perfeição do trabalho em conflito com um corpo “imperfeito”.

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Woman with Sticks, 2008

Na sala seguinte, um homem também nu, está sentado num barco, de braços cruzados, observando desconfiado alguma coisa. O interessante é que, as duas esculturas na sequência, intrigam e forçam a imaginação. Mas confesso que não consegui encontrar resposta para nenhuma das minhas dúvidas com relação a elas.

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Man in a Boat, 2002

A última obra da mostra é a gigantesca Couple Under an Umbrella (2013) que me mostrou o amor, a velhice e o quanto somos pequenos diante dos dois.

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Faz parte da exposição, um vídeo que mostra o processo criativo do artista e sua equipe. 50 minutos de muita concentração e caras fechadas. É claro que ninguém que é bem sucedido entrega o ouro, então não pense que as pessoas saem de lá sabendo como é que ele faz tudo aquilo. Para você ter uma ideia, aparecem muitos moldes de gesso e as esculturas já saem cheias de detalhes. Agora, como aqueles moldes são feitos, só Muek é que sabe.

Penso que o rosto do artista adormecido, abrindo a exposição, faz alusão aos seus sonhos. O que ele imagina, o que passa pela sua cabeça. Coisas que, no caso, começam a ser mostradas na sequência. Contribui com essa ideia o fato de as pessoas retratadas não serem reais.

A experiência foi incrível e deixou muitas curiosidades: o que a mulher ia fazer com tantos galhos? Por que ela e o homem estavam nus? O que aquele homem observava? Por que as pessoas nunca sorriem?

Imagens: Reprodução

Juliana Castellan | Redatora Publicitária
julianacastellan.com.br

17 comentários
Deixe um comentário pra mim!
  1. Luisa
    18.janeiro.2015

    Meninas, adorei a coluna!
    Fui nessa exposição na semana passada, realmente a perfeição impressiona!
    Vale falar que a Pinacoteca tem mais exposições abertas ao público, como a do Burle Marx (que eu achava q era só paisagista!) e as obras do acervo permanente do espaço.
    Bjos!

    • 18.janeiro.2015

      Que bom que gostou da nova coluna Luisa, a Ju vai trazer muita coisa legal por aqui! ;)
      Um beijo

    • 19.janeiro.2015

      Oi, Luisa! É isso mesmo… Tem muitas outras coisas interessantes por lá… bem colocado.

      Beijão!

  2. 18.janeiro.2015

    Oi Juliana e Bruna! Como blogueira de viagens e passeios, sou suspeita em dizer que adorei esse novo espaço :D
    Ju, também já visitei esta exposição, mas diferente de você fiquei 3 horas na fila sob um sol escaldante, torcendo para que toda essa espera, fosse recompensada ao entrar na Pinacoteca hahaha Meu desejo foi atendido, simplesmente amei, fiquei impressionada com o realismo e detalhes das obras, pessoalmente ainda é mais incrível, vale muito a pena visitar ;)
    Quanto as identificações das obras, na entrada ou no final de cada sala há placas na parede com o nome da obra e mais alguns dados. Acho que por isso que não viu, afinal, deveriam estar próximas das esculturas, melhor localizadas…
    Já gostava do CMA, agora com dicas culturais vou segui-lo mais ainda hehehe
    Parabéns meninas!
    bjs

    • 18.janeiro.2015

      Oi Si, obrigada viu… A Ju vai enriquecer muito os nossos domingos por aqui! <3

    • 19.janeiro.2015

      Simone, pode ter certeza que você também ganhou mais uma leitora!

      É verdade, achei bem mal localizadas as informações. Eu nem cheguei a ver essas placas que você mencionou… nas salas com mais de uma obra também tinha?

      Beijão!

  3. 18.janeiro.2015

    Eu gostei muito da coluna e do post. Fiquei muito curiosa de conhecer o trabalho deste artista pessoalmente.

  4. 19.janeiro.2015

    Eu achei incrível, mas ao mesmo tempo fiquei com medo UHASUASHUS É real demais pra mim! Seja bem vinda Juliana =) http://simsemfrescura.blogspot.com.br/

  5. Luzia Francisco
    19.janeiro.2015

    Que pena que já passou por aqui! Vou acompanhar sempre sua coluna Juliana para estar sempre bem informada.
    Seja bem vinda!

  6. Vick
    22.janeiro.2015

    Oi meninas! Gostei da parceria!
    Ju, adorei o post e fiquei contente em saber que tu sempre carregas uma nécessaire, isso quer dizer que tá rolando make direto!? Aí sim hein!
    Bjo pra vcs duas

    • 22.janeiro.2015

      Aeee! Que bom que gostou Vick, tbm amei! :)

    • 23.janeiro.2015

      Vick! Que delícia ver você aqui.

      Sim… E aprendi isso com você, que fique registrado aqui!!!

      Beijão… rs